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Aqui você encontra textos diretos do campo, com técnica e linguagem simples. Tudo assinado pelo Prof. Dr. Hugo Peron para ajudar quem vive da pecuária a tomar decisões mais certeiras.
20 de Julho de 2025
Autores: Prof. Hugo Jayme Mathias Coelho Peron, Jordana Larisse Alves Silva, Gabriella de Oliveira Nascimento
Ureia na Seca: Eficiência, Segurança e Lucro na Porteira
A estação seca é o verdadeiro teste da competência nutricional de qualquer sistema de produção a pasto. A queda brusca na qualidade do pasto, especialmente em proteína bruta e digestibilidade, exige do técnico e do produtor decisões assertivas. Nesse cenário, a ureia — uma fonte de nitrogênio não proteico (NNP) — deixa de ser tabu e passa a ser ferramenta estratégica. Mas, para isso, é preciso entender técnica, manejo e limite. Aqui não tem achismo: tem ciência aplicada ao campo.
1. O Desafio da Seca: Fibra sem Nitrogênio
Durante a seca, o teor de proteína das gramíneas tropicais pode cair abaixo de 6%, nível insuficiente para sustentar uma população ruminal eficiente. Sem nitrogênio, os microrganismos que degradam a fibra perdem atividade, reduzindo a digestão e, como consequência, a ingestão.
O animal come menos, aproveita menos e começa a perder peso. O que muitos não percebem é que o pasto está cheio de energia potencial — mas ela só será aproveitada se houver nitrogênio disponível para os microrganismos ruminais. É aí que entra a ureia.
2. O Que é Ureia e Por Que Ela Funciona
A ureia é uma molécula simples, com 46% de nitrogênio. No rúmen, ela é rapidamente convertida em amônia pela urease, uma enzima microbiana. A amônia é usada pelas bactérias ruminais para sintetizar proteína microbiana — que será digerida mais adiante no intestino, contribuindo para o ganho de peso do animal.
A vantagem é o custo: o preço por unidade de nitrogênio da ureia é imbatível. Mas não é proteína verdadeira, e seu uso exige energia fermentável disponível e manejo preciso para evitar intoxicação.
3. Resultados no Campo: Quando Bem Feito, Dá Lucro
Diversos trabalhos mostram que, quando bem utilizada, a ureia melhora o aproveitamento da fibra e mantém o escore corporal dos animais na seca.
Estudos da Embrapa (Souza et al., 2017; Paulino et al., 2019) indicam que animais suplementados com ureia associada a fontes energéticas e minerais tiveram:
Redução de até 35% nas perdas de peso corporal
Maior taxa de prenhez ao início das águas
Melhor eficiência alimentar por hectare
Ou seja, a ureia não é luxo nem risco — é gestão. Uma fazenda que entra nas águas com o gado magro compromete todo o ciclo seguinte: prenhez, lactação, desmama, recria.
4. Limites Técnicos e Riscos no Uso da Ureia
O maior erro é o uso sem critério. A ureia não pode ultrapassar 1% da MS total da dieta ou o equivalente máximo a 45 g por 100 kg de PV por dia.
Além disso, ela nunca deve ser fornecida pura, nem em cochos sujos, úmidos ou com acesso irregular. O consumo deve ser fracionado e constante, com oferta de água abundante.
Prevenção de intoxicação:
Misturar bem com fontes energéticas (milho, polpa, farelos)
Adicionar enxofre (relação N:S de 9:1)
Incluir farelo de algodão ou de soja como fonte de proteína verdadeira
5. Ureia Protegida: Quando Usar?
Produtos como Optigen® e Prote-N® (ureias de liberação lenta) são alternativas mais seguras em sistemas de cocho coletivo ou com manejo mais solto.
Eles reduzem o pico de amônia no rúmen, o que:
Aumenta a eficiência de uso do NNP
Reduz risco de intoxicação
Permite maior flexibilidade no fornecimento
Para sistemas mais intensivos e bem manejados, a ureia comum continua sendo excelente e mais econômica.
6. Fórmulas e Estratégias Práticas para Uso na Seca
Exemplo de mistura proteica com ureia:
50% milho moído
30% farelo de algodão
10% ureia pecuária
5% sulfato de amônio
5% núcleo mineral com aditivos
Fornecimento: 1 g/kg PV/dia
Consumo esperado: 200-300 g/animal/dia
Essa mistura fornece nitrogênio rápido, energia fermentescível e proteína verdadeira — ideal para manter a digestão da fibra do pasto seco.
7. Economia Real: Custo por Unidade de Proteína
A ureia fornece 281% de proteína equivalente, com custo por kg de PB cerca de 4 a 6 vezes menor que fontes como farelo de soja ou torta de algodão.
Reduz custo
Mantém o gado comendo
Protege o desempenho reprodutivo
Prepara o animal para o rebrote das águas
8. Conclusão: Ureia é Ferramenta, Não Vilã
Usar ureia com responsabilidade é uma forma inteligente de fazer a pecuária atravessar a seca sem prejuízo.
O segredo está em associar técnica com simplicidade de manejo. Não é preciso inventar moda, mas sim fazer o básico bem feito. É isso que separa quem lucra de quem quebra na volta das águas.
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